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quarta-feira, 29 de julho de 2020

1ª SÉRIE A, B, C e D - 3ª SÉRIE A, B, C e D, - QUARTA ATIVIDADE REMOTA DE HISTÓRIA -


AULA TEMÁTICA DE HISTÓRIA: RACISMO

Racismo estrutural



Jogo do Privilégio



Anos de escravidão

  A história do Brasil é feita de heranças e continuidades. Mesmo diante dos avanços políticos e sociais, o país ainda é refém de problemas criados há muito tempo. É o que acontece com o racismo, produto de uma ordem hierárquica desenvolvida na sociedade escravocrata e que deu o tom da formação da nação por quase quatro séculos.

  O Brasil foi o país que mais recebeu escravos do tráfico negreiro feito a partir da África durante o período colonial e um dos últimos a abolir a escravidão. Importamos cerca de 5 milhões de africanos, enquanto os Estados Unidos e o Canadá receberam 400 mil.
 Mesmo após a abolição e a proclamação da República, essa ordem hierárquica nunca se desmantelou por completo. E o que é pior: ela se modernizou e se instalou nas relações sociais da perspectiva de classes e de raça.

A capa do EXTRA de 8 de julho de 2015 compara o linchamento de Cleidenilson Pereira aos castigos da escravidão.
  
  A herança da escravidão, portanto, continua afetando o modo como a sociedade se organiza, gerando um racismo que está conectado a uma hierarquia estamental (dividida por nascimento), e não de classes, como se costuma erroneamente vincular.

  Isso significa que não existe mobilidade efetiva entre grupos. Do conjunto dos 10% mais pobres do país, 70% são negros, enquanto entre os 10% mais ricos apenas 15% são negros. Assim, o racismo se implanta como instrumento de manutenção das hierarquias, e se manifesta no preconceito de cor e na valorização do embranquecimento.

Você é racista?

  Uma mulher branca e uma negra dividem um banco de metrô. A negra tem o cabelo crespo solto, estilo black power. A branca repara, acha curioso e pede para tocar nas madeixas. A alguns metros dali, um negro vestindo uma blusa com capuz caminha pela avenida ao som do rapper Emicida. Um homem de negócios, de terno e ao celular, atravessa a rua quando o vê.

João Pedro e George Floyd. No Brasil e nos Estados Unidos, as duas mais recentes vítimas do racismo.

  Um idoso internado num hospital do outro lado da cidade reclama com uma negra vestida de branco sobre a demora da médica, sem saber que está falando com a própria. Na televisão, um programa humorístico tem um personagem chamado Africano que emite sons guturais e se comporta como uma besta. O que todas essas situações têm em comum? São casos cotidianos de racismo que passam despercebidos pelas pessoas por causa de um fenômeno que a psicologia social chama de unconscious bias, ou, em português, “viés inconsciente”.

O que é “viés inconsciente”?

  O viés inconsciente é um conjunto de estereótipos sociais, sutis e acidentais que todas as pessoas mantêm sobre diferentes grupos de pessoas. É o olhar automático para responder a situações e contextos para os quais você é treinado culturalmente, como uma programação do cérebro. O ser humano tem a capacidade de pensar rápido ou devagar. Quando decidimos sobre a compra de uma casa, pesamos todos os lados para tomar a decisão. Ou seja, pensamos devagar.

Viés inconsciente.

  Mas, em outras situações do dia a dia, nos baseamos em julgamentos intuitivos que são processados rapidamente pelo cérebro, sem nos darmos conta. São como atalhos que a mente usa porque é mais fácil. O problema é que ele também nos prega peças. Toma decisões com base em associações com memórias antigas, noticiário, novelas, aulas, conversas com familiares e amigos. Nelas, há milhares de estereótipos. Não adianta se ofender e dizer que não é preconceituoso. Se você tem um cérebro, tem viés inconsciente. Sem que perceba, processos neurais e cognitivos tiram conclusões por você, e é aí que entra a discriminação disfarçada.

A discriminação de cor se manifesta de forma aberta e velada.

  No Brasil, a forma aberta faz parte de episódios de conflitos diretos. O número de assassinatos de jovens negros periféricos é um exemplo disso. Já a discriminação velada faz que conflitos raciais sejam minimizados como um mero mal-entendido. Evita-se falar deles, de raça, de racismo, ou mesmo usar o termo “negro”, muitas vezes com o argumento de que trazer isso à tona pode gerar ódio racial, como acontece em outros países.

  O fato de o racismo velado ter força na sociedade brasileira torna difícil conseguir evidenciar alguns processos que impactam concretamente as vítimas do racismo. Mesmo em situações mais explícitas, como a violência policial contra jovens negros, a leitura que se faz é que ora é um problema social, ora um grande mal-entendido.

  Racismo não faria parte dos problemas em que a nação deve se concentrar para resolver. Algumas pessoas tentam até se esquivar do problema alegando que raça não existe. De acordo com o sociólogo e professor titular da USP Antônio Sérgio Guimarães, raça é um conceito que não corresponde à realidade natural, e sim ao mundo social. É uma forma de classificação baseada numa atitude negativa em relação a certos grupos sociais. Mesmo assim, é importante trazer a discussão da raça à tona, pois é a partir de sua noção que algumas classificações impactam individual e coletivamente essas pessoas.

Tudo o que é problemático e pode gerar conflito é tratado de maneira velada, escondida.

  Quais são as implicações disso? Uma pesquisa clássica do Datafolha realizada em 1995 mostrou que 90% dos brasileiros admitiam que existe preconceito de cor no Brasil, mas 96% dos entrevistados se identificavam como não racistas. Ou seja, evita-se que a discriminação seja colocada de maneira explícita como marca própria de nossa identidade. Isso torna o nosso racismo velado: ele existe, mas não é exposto.

  Vale notar que são dados comportamentais, ou seja, não mudam rapidamente, como a quantidade de habitantes ou o valor do produto interno bruto (PIB). Esse comportamento também explica as especificidades do racismo à brasileira, que produz desigualdades visíveis nos dados, mas se reproduz com força quase inabalável em processos culturais e silenciosos de opressão, como a rejeição simbólica do negro e do africano.

A hierarquia racial é parte das camadas que estruturam a pirâmide de privilégios que fazem parte da cultura e da sociedade.

  No topo está o homem branco, seguido pela mulher branca. Só depois aparecem o homem negro e, por último, a mulher negra.

  O racismo, portanto, se reproduz nessa estrutura de privilégios porque é dentro dela que o preconceito de cor exerce seu poder: criando obstáculos. Eles são feitos para os privilegiados que tendem a não enxergar as dificuldades e problemas enfrentados pelos outros, por inserir barreiras reais (dificuldade de acesso a educação, saúde, emprego, infraestrutura) e psicológicas (acreditar que não pode conseguir, autoexclusão).

  Quando a pessoa não atenta para as posições que ocupa numa escala de privilégio, dificilmente fica explícito se ela está colaborando, mesmo que involuntariamente, com certas atitudes e ações que reproduzem o preconceito — pois ela está operando pela lógica do viés inconsciente. É justamente por possuírem privilégios que para muitos indivíduos é difícil entender que, apesar do esforço pessoal, existem, sim, pessoas que se beneficiam deles. No caso específico de uma sociedade racista, em quantidade e frequência, são os negros e negras que carregam bagagens sem receber nenhum tipo de apoio.


  No Brasil, essa questão atinge níveis mais drásticos por duas razões: o racismo é velado e vivemos numa sociedade hierarquizada com base em privilégios. Ter privilégios significa usufruir de oportunidades e escolhas sem ter que pensar sobre isso, como ligar a torneira de casa para ter água. Decisões que parecem banais, mas não são, por causa da existência de um conjunto de indivíduos da mesma sociedade que não têm as mesmas oportunidades. É justamente por possuir privilégios que é difícil entender que, apesar da liberdade para se esforçar e lutar pelo que se deseja, não são todos que atingem a linha de chegada com o mesmo sucesso.

REFERÊNCIAS
Você é racista - só não sabe disso ainda. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/10/voce-e-racista-so-nao-sabe-disso-ainda.html. Acesso: 14/07/2020.

Liks sobre o assunto trabalhado nesta aula:

Racismo estrutural. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ia3NrSoTSXk&t=7s. Acesso: 20/07/2020.

Jogo do Privilégio. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6U04cSyyJCo&t=3s
Acesso: 20/07/2020.

ATIVIDADE DE AVERIGUAÇÃO DE APRENDIZAGEM

Entregar para o professor via whatsapp ou formulário google, ate o dia 11/08/2020.


01. “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” (Nelson Mandela)

“[...] E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se
propagando
Qualquer tipo de racismo não se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse
lixo que é uma herança cultural [...].”
(GABRIEL O PENSADOR. Lavagem Cerebral. Álbum: Gabriel O Pensador. Sony Music, 1993. CD.)

Os dois trechos acima fazem menção à discriminação racial. Com base neles e nas condições históricas do racismo no Brasil, escolha a alternativa CORRETA.

a) O primeiro trecho assinala que o racismo é uma característica irreversível do ser humano, ao passo que o segundo afirma que o racismo é um legado que deve ser recusado;
b) O primeiro trecho indica que a tolerância racial pode ser ensinada, ao passo que o segundo trecho nega que o racismo tenha raízes históricas;
c) O racismo contemporaneamente não tem vínculo direto com a escravidão no Brasil, uma vez que esta foi extinta em 1888, logo após a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, filha de D. Pedro II;
d) Tanto o primeiro quanto o segundo trecho sugerem que o racismo é resultado de um processo histórico, que pode ser convertido em tolerância racial.

2. “A frase "não consigo respirar", repetida por Eric Garner em 2014 antes de morrer, tornou-se um grito de guerra para ativistas que protestam contra brutalidade policial contra negros. Garner, um negro desarmado, disse a frase 11 vezes após ser detido pela polícia por suspeita de vender ilegalmente cigarros soltos. Foram as palavras finais do homem de 43 anos, depois que um policial aplicou uma chave de estrangulamento nele.”

Dentre os conceitos mencionadas logo abaixo, assinale a que melhor se aplica à situação descrita no fragmento retirado do G1 – Portal Globo de Notícias. 

a) Bullyng.
b) Xenofobia
c) Etnocentrismo
d) Racismo

3. Ser branco no Brasil significa ter privilégios? Justifique sua resposta com trechos do texto trabalhado nesta aula.
R_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


4. A partir dos dados e informações apresentadas nesta aula, assinale a alternativa que não está de acordo com o comportamento do brasileiro diante do tema: racismo.

a) A maioria dos brasileiros admite existir racismo no Brasil - 90%, ao mesmo tempo em que se declaram racistas - 96%;
b) Para evitar conflitos, a maioria dos brasileiros não admite que tem preconceito;
c) No Brasil, essa questão atinge níveis mais drásticos por duas razões: o racismo é velado e vivemos numa sociedade hierarquizada com base em privilégios.
d) O fato de o racismo velado ter força na sociedade brasileira torna difícil conseguir evidenciar alguns processos que impactam concretamente as vítimas do racismo.


5. “A história do Brasil é feita de heranças e continuidades. Mesmo diante dos avanços políticos e sociais, o país ainda é refém de problemas criados há muito tempo. É o que acontece com o racismo, produto de uma ordem hierárquica desenvolvida na sociedade escravocrata e que deu o tom da formação da nação por quase quatro séculos... Mesmo após a abolição e a proclamação da República, essa ordem hierárquica nunca se desmantelou por completo. E o que é pior: ela se modernizou e se instalou nas relações sociais da perspectiva de classes e de raça. A herança da escravidão, portanto, continua afetando o modo como a sociedade se organiza, gerando um racismo que está conectado a uma hierarquia estamental (dividida por nascimento), e não de classes, como se costuma erroneamente vincular.”

A partir fragmento textual acima, podemos afirmar que o racismo no Brasil é fruto de uma construção? Marque a resposta correta.

a) Científica e natural
b) Histórica e social
c) Natural e histórica
d) social e natural