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Baruch Espinosa – “Tudo
existe em Deus”
Baruch Espinosa (ou Bento de Espinosa)
nasceu em 1632 em Amsterdã, na Holanda, de uma família de judeus portugueses
que buscavam refúgio da perseguição religiosa na Península Ibérica. Estudou na escola judaica e preparou-se
para ser rabino, mas suas ideias independentes o levaram a sua excomunhão
em 1656. Expulso da comunidade judaica, leva uma vida independente,
aprofundando seus estudos de filosofia – em especial do racionalismo de
Descartes, que tem um grande impacto sobre ele – e do humanismo clássico.
Tal
como Descartes, Espinosa acreditava que um dos impulsos por trás do esforço
filosófico é o desejo de alcançar a certeza. Só
podemos alegar possuir conhecimento na medida em que alcançamos a certeza
absoluta.
Assim, também para Espinosa, como para
Descartes, o modelo matemático, com sua clareza e precisão, é a base para a
condução do pensamento filosófico. Não por acaso, sua Ética é toda ela organizada sob a forma de
demonstrações, tal como ocorre na matemática.
Espinosa estava convencido de que o
verdadeiro conhecimento, só pode ser assegurado se assentarmos a ciência sobre
bases metafísicas sólidas. Todo o nosso conhecimento deve estar interligado de
modo que possamos demonstrá-lo com segurança partindo de premissas seguras e
aplicando corretamente as regras da demonstração.
O sistema montado por Baruch Espinosa é um
dos mais grandiosos e complexos da história da filosofia, então, vamos nos
restringir a um aspecto com o intuito exclusivo de destacar o desenvolvimento
do racionalismo ao longo do século XVII. Uma das dificuldades da filosofia
cartesiana, o dualismo mente-corpo,
está associado ao procedimento da dúvida metódica. Pela própria forma como a dúvida
procede (o “eu” coloca em dúvida todas as coisas) e pela conclusão a que ela
chega (“Penso, logo existo” como
expressão da primeira certeza), a
separação entre mente e corpo é uma consequência. Descartes
conclui que existem duas substâncias, sendo o “eu” substância finita e Deus
substância infinita, e tudo o que existe, grosso modo, são variações dessas
substâncias.
A discussão levantada por Espinosa gira em torno da noção
fundamental de substância. Tradicionalmente, substância é aquilo que subsiste por si mesmo,
aquilo que não tem necessidade de outra coisa para existir.
Dizer que algo
depende apenas de si mesmo para existir significa dizer que é causa de si mesmo. Ninguém contestava a ideia de que tudo o que existe, existe por
uma causa. Ora, a relação entre a causa e seu efeito é uma relação de
dependência: o efeito depende da causa para existir. Logo, se uma substância depende apenas de si mesma para existir,
deve ser causa de si mesma.
Agora, na tradição judaico-cristã, apenas um ente pode ser
pensado como causa de si mesmo: Deus. Isso leva Espinosa a identificar a noção
de substância com a noção de Deus e afirmar, enfim, que há apenas uma
substância, e não duas, como queria Descartes. Ou seja, o próprio conceito de substância implica o monismo, não o
dualismo.
Para Baruch Espinosa, essa maneira de pensar é equivocada, dada a
própria noção de substância. Como só pode haver uma substância, tudo deve ser considerado
como modificação dessa substância única – ou seja, de Deus. Deus e o mundo (ou
a natureza) acabam se confundindo: tudo é modificação de Deus (ou da
substância).