Colégio Estadual “Fausto
Cardoso”
Disciplina: Física e
Matemática 2ª unidade
Profª Elen Carla
Aula 5 – 18/11/2020
Semana da Consciência Negra
Texto que retrata a discriminação racial contendo dados
numéricos
Pesquisa constata discriminação
racial recorrente no mercado de trabalho
Não é só no olhar de discriminação, nas frases que ferem a
igualdade racial ou em atitudes desrespeitosas que grupos negros são segregados
por sua raça ou cor. O preconceito permeia outras esferas do cotidiano dessa
população, que ainda enfrenta dificuldades para ocupar cargos de chefia e
comando, ter acesso à educação, a posses e a salários equivalentes aos valores
pagos aos brancos. Foi o que ficou evidenciado na semana que se encerrou com um
caso emblemático ocorrido na rua, em Belo Horizonte, quando a historiadora e
professora Luana Tolentino, que é negra, foi vítima de preconceito racial. Ela
foi abordada por uma senhora e questionada se fazia faxina. “Altiva e segura,
respondi: Não. Faço mestrado. Sou professora”, descreveu Luana em uma rede
social.
O caso chamou a atenção para a forma como a discriminação
racial está atrelada ao mundo do trabalho e estabelece estruturas de hegemonia
que vinculam negros a postos de serviço subordinados, social e economicamente
inferiores. É o que explicam especialistas e mostram dados de institutos de
pesquisa. Para se ter ideia, os últimos números da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre o quarto trimestre de 2016,
revelaram que a taxa de desemprego permanece maior entre negros e pardos, que
também têm salários mais baixos. Na ocasião, a renda média real recebida pelas
pessoas ocupadas no país foi estimada em R$ 2.043. O rendimento dos brancos era
de R$ 2.660 (acima da média nacional), enquanto o dos pardos ficou em apenas R$
1.480 e o dos trabalhadores que se declaram pretos esteve em R$ 1.461.
A taxa de desemprego entre os
diferentes grupos também confirma o preconceito racial. O índice entre pessoas
que se declararam de cor preta ficou em 14,4% no quarto trimestre de 2016,
enquanto a taxa entre a população parda foi de 14,1%. Os resultados são maiores
que o da média nacional, de 12%, e do que o registrado pela população branca,
que teve taxa de desemprego de 9,5% no quarto trimestre de 2016.
Na avaliação do sociólogo Luiz
Chateaubriand, da Superintendência de Estudos Econômicas e Sociais da Bahia, os
dados são um resultado da forma como o mercado se estrutura em função das
questões de raça e cor. Também analista da Pesquisa de Emprego e Desemprego
(PED) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese), o especialista explica que população negra e parda tem mais
dificuldade de obter emprego, mesmo quando tem o mesmo nível de escolaridade e
titulação. E que, quando consegue, está sub-representada em postos de comando e
chefia ou acesso a bens e propriedades, além de ganhar salários mais baixos do
que a população branca.
Cotas
no caminho da mudança
Ao passo que avanços foram alcançados na política de acesso à
educação superior, com a instituição da
política que cria cotas para negros em universidades do país, ainda é clara a
presença maciça de brancos nessas instituições. Prova disso está na
distribuição de vagas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde
42,11% das cadeiras ainda são ocupadas por pessoas que se autodeclararam
brancos, contra 8,45% declarados pretos. No ano passado, a universidade atingiu
a cota máxima de oferta para pretos, pardos e indígenas que estudaram em
escolas da rede pública, ofertando 50% das vagas para essas categorias.
Ainda assim, ainda há muito o que ser
feito na educação, de modo geral, como explica a socióloga Inês Teixeira,
professora titular da Faculdade de Educação da UFMG. Segundo ela, “os processos
históricos e o imaginário das pessoas ainda colocam o negro em posições
permeadas por estereótipos de inferioridade que precisam ser combatidos”. Ela
conta que à época da elaboração da pesquisa Memórias e percursos de gerações de
professora e estudantes negros da UFMG, da qual participou, há uma década,
havia área da UFMG que não tinha nenhum professor negro. “Claro que essa
realidade mudou, mais ainda há muito o que ser feito”, avalia.
A questão é que “a mentalidade
escravocrata não está eliminada e ainda é muito forte no sentido de endereçar
as pessoas negras para atividades como as domésticas ou outros trabalhos
braçais, como ocorria no período da escravidão”, afirma a filósofa Shirley Miranda,
também professora da FAE. Ela também comenta o desnível identificado na
presença de negros e brancos na educação, mas ressalta a importância da
política de cotas e o avanço com a recente aprovação da medida também para a
pós-graduação da UFMG.
A coordenadora do Centro Nacional de
Africanidade e Resistência Afro-brasileira (Cenarab), Makota Célia Gonçalves,
explica como esse preconceito afeta o negro não só no mercado de trabalho e na
educação, mas também em esferas pessoais. “Isso fere nossa subjetividade. O
racismo brasileiro não tem nada de gentil. Ele é perverso. Em um desses casos,
uma moça negra teve seu turbante puxado por um senhor quando ia pegar o ônibus.
Em outro, o mesmo ocorreu em um baile de formatura. Estamos vivendo em uma
sociedade que alimenta o ódio por estar incomodada com a perda de privilégios
históricos, já que negros vêm disputando vagas e postos de poder antes não
ocupados por essa população”, afirma. Ela diz, no entanto, como ainda há
desafios. “O primeiro deles é vencer o preconceito. As pessoas precisam parar
de nos ver de forma estereotipada, como se o negro só jogasse capoeira, andasse
em rodas de samba ou em postos de trabalho inferiores. Estamos alcançando novas
possibilidades e isso deve ser respeitado”, cobra.