Primeira República: Movimento Tenentista e Cangaço
Movimento Tenentista
Cangaço
Tenentismo
Entre a baixa oficialidade do Exército, crescia a insatisfação com a República Oligárquica, que limitava a participação política das camadas urbanas.
Da mesma forma, esses oficiais sentiam-se desprestigiados, pois não haviam sido destinados muitos recursos financeiros ao Exército e a ascensão aos quadros superiores da hierarquia estava submetida a critérios políticos.
Os jovens tenentes propunham a moralização do País e das instituições republicanas com a instituição do voto secreto, a centralização política e a criação do ensino obrigatório e gratuito.
Os 18 do Forte de Copacabana
Jovens tenentes e capitães, num total de 301 homens, rebelaram-se em 5 de julho de 1922, no forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. A rebelião eclodiu quando o marechal Hermes da Fonseca foi preso, sob a acusação de incentivar os militares à desobediência, e o Clube Militar foi fechado.
Em virtude da rebelião, o forte foi bombardeado por dois encouraçados e cercado por 4 mil soldados leais ao governo.
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Revoltosos. Os tenentes Eduardo Gomes (à esq.), Mario
Carpenter e Newton Prado, o civil Octavio Correia e soldados, após saírem do
Forte de Copacabana 06/07/1922 / FGV
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Armados, 17 rebeldes deixaram o forte e marcharam pela Avenida Atlântica em direção ao Palácio do Catete, sede do governo; uniu-se a eles um civil, um engenheiro gaúcho em férias no Rio de Janeiro.
Cercados pelos soldados, que começaram a disparar, sobreviveram apenas os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
Cangaço
O termo cangaço deriva da palavra canga, objeto usado no trato com os bois na roça. A canga era uma madeira que passava no pescoço do boi e lhe prende ao arreio. Os cangaceiros viviam de forma errante e traziam consigo tudo que possuíam.
O cangaço manifestou-se na sociedade brasileira como uma forma de protesto diante das injustiças sociais observadas nas regiões mais retiradas do país. O nordeste perdeu seu prestigio nacional ainda durante a colônia quando a capital deslocou-se para o sudeste na cidade do Rio de Janeiro. Pouco ou nada mudou durante o Império o que gestou na população local nordestina uma grande insatisfação, principalmente diante do poderio dos grandes proprietários de terras que se apropriavam das melhores terras legando a população serem seus empregados ou manterem terras improdutivas.
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, “o banditismo é uma forma bastante primitiva de protesto social organizado”. O movimento do cangaço sertanejo deve ser lido como manifestação de um banditismo nacional diante das injustiças sociais vividas pela população pobre nordestina.
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Cangaceiros do bando de Virgulino Lampião (centro). Foto: Benjamin Abrahão Botto. |
A situação fundiária propiciava disputas sociais intensas e isso se manifestava através dos cangaceiros que se dividiam em ao menos três tipos:
O primeiro tipo: eram os mercenários que trabalhavam para os latifundiários, proprietários de terras, mais interessados em combater fortemente os cangaceiros “bandidos”. Os primeiros formavam uma espécie de milícia e não eram tão reprimidos quando os cangaceiros tradicionais, por estarem amparados por homens poderosos.
O segundo tipo: também de forma mercenária tinham nos políticos seus patrões, o que também lhes garantia proteção mediante trabalho realizado. As disputas se resolviam entre milícias e na ponta da peixeira.
O terceiro tipo: foi aquele que ficou mais conhecido com a literatura, principalmente na figura de Virgulino Lampião. Eram os bandidos reprimidos e inimigos públicos. No entanto esses viviam a sua própria sorte, visto que não tinham o apoio de “padrinhos” poderosos que lhes aparassem nas dificuldades. Tudo que possuíam carregavam consigo pelas estradas do sertão e retiravam da natureza tudo que precisavam.
O cangaço dura até a década de 1930, só termina após uma ampla campanha instituída por Getúlio Vargas. Até aquele momento o cangaço era mantido pelos próprios latifundiários, pois esses se beneficiavam dos movimentos e grupos que preferiam associação e proteção e para isso lhes faziam serviços como a cobrança de impostos, ou ações violentas para garantia de voto. Com Vargas os cangaceiros passam a ser considerados como desordem à paz nacional e por isso inimigos públicos declarados.
REFERÊNCIAS
Enem e Vestibulares. CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS: História do Brasil. Produção editorial: Gold Editora. 2020.
JASMIN, Élise, Cangaceiros. Ed. Terceiro Nome, São Paulo, 2006.
Liks sobre o assunto trabalhado nesta aula:
REVOLTAS TENENTISTAS. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-toQihTXfXo. Acesso: 03/08/2020.
CANGAÇO: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=08yEMK72Dbs. Acesso: 03/08/2020.
ATIVIDADE DE AVERIGUAÇÃO DE APRENDIZAGEM
Entregar para o professor via whatsapp ou formulário google, ate o dia 26/08/2020.
A partir do texto acima, e do links para pesquisa indicados pelo professor, responda as questões abaixo.
FORMULÁRIO GOOGLE FORMS: 3ª SÉRIES - ENSINO MÉDIO
1. O que foi o episódio conhecido como Os Dezoito do Forte?
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2. Sobre o Tenentismo no Brasil durante a Primeira República (1889-1930) é correto dizer:
a) Foi um grupo formado por jovens militares com o objetivo de instalar um regime comunista no Brasil.
b) Representou um grupo de oligarquias cafeeiras que primavam pela continuidade do trabalho escravo no Brasil.
c) Foi um movimento constituído por jovens tenentes do exército que realizaram várias manifestações contrárias ao governo das oligarquias durante a Primeira República no Brasil.
d) Constitui-se por jovens militares durante os anos de 1920 e 1930, com a prioridade de continuar com a política de café-com-leite no cenário político nacional.
3. A partir das imagens e de seu conhecimento sobre o tema, marque a resposta INCORRETA.
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Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) |
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Em pé, Lampião e Maria Bonita |
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Benjamin Abrahão Botto e o bando de Lampião |
Comentário:
As imagens constituem uma série fotográfica feita pelo libanês Benjamin Abrahão Botto (1900-1938), que veio para o Brasil em 1915, após desertar de uma convocação para lutar na Primeira Grande Guerra. Trabalhou como mascate no Nordeste brasileiro até conquistar a confiança de Padre Cícero, tornando-se seu secretário particular. Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, após a morte de Padre Cícero, Benjamin chegou a vender como relicário fios de cabelo supostamente do sacerdote, o que ocasionou sua saída de Juazeiro do Norte. Benjamin havia estado com Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) pela primeira vez em 1926, quando da visita do bando de cangaceiros a “Padim Ciço”. Fascinado pela figura de Lampião, decidiu fazer do cangaço seu trabalho e tentou se tornar fotógrafo do bando, o que conseguiu em 1936. Benjamin queria fazer fama e dinheiro com suas fotos, o que não se concretizou devido a seu assassinato, em 1938. Entretanto, suas fotos tornaram Lampião ainda mais famoso.
As fotografias em destaque, bem como o restante da série, retratam o bando de Lampião em poses de guerra, mas também em cenas cotidianas, como momentos de costura de roupas, brincadeiras com cães etc. A publicação das imagens de Benjamin Abrahão Botto em vários jornais do país ajudou a construir a figura do cangaceiro brasileiro e a de Lampião como seu maior expoente. Outros cangaceiros conhecidos, como Jesuíno Brilhante (1844-1879) e Antônio Silvino (1875-1944), não investiram em construir sua imagem pública. Lampião, ao contrário, gostava de publicidade e aceitou Benjamin em seu bando durante o ano de 1936, quando a série fotográfica foi produzida.
Ao utilizar a fotografia como fonte histórica, a interação entre fotógrafo e fotografado deve ser considerada, pois a tensão dessa relação determina o resultado final da imagem. Nesse sentido, as imagens dos cangaceiros são carregadas de intenção e constituem uma representação que pode ser analisada historicamente. É possível vislumbrar que Lampião, ao aceitar o fotógrafo em seu grupo e, ainda, ao aparecer de forma copiosa em diversas imagens, intentava construir e transmitir uma imagem de si e de seu grupo.
Alternativas
a. As imagens dos cangaceiros em cenas cotidianas constituem documentos históricos criados a partir da interação entre fotógrafo e fotografados. O retratado torna-se um personagem para o fotógrafo, mas também exprime seus sentimentos e intenções na imagem.
b. Benjamin Abrahão Botto foi único fotógrafo autorizado a seguir o bando e a divulgação das imagens ajudou a reforçar a figura de Lampião como arquétipo dos cangaceiros de seu tempo, dando-lhe publicidade e notabilidade.
c. As fotografias compõem uma série de imagens capturadas em 1936 e retratam cenas cotidianas de Lampião, sua mulher, Maria Bonita, os cangaceiros de seu bando, além do fotógrafo libanês Benjamin Abrahão Botto.
d. Antes de fotografar Lampião, Benjamin Abrahão Botto viveu em Canudos, onde foi o fotógrafo particular de Antonio Conselheiro. Após a morte do beato, Benjamin vendeu seus fios de cabelo como relicário.
4. O jornal A tarde, de 20 de janeiro de 1931, publicou a seguinte carta:
Ilmo Sr. Francisco de Souza
Aspiro boa saúde com a exma. Família. Tendo eu freqüentado uma fazenda sua, deliberei saudando-o em uma cartinha, pedir um cobrezinho. Basta dois contos de réis. Eu reconheço que o senhor não se sacrifica com isto e eu ficarei bem agradecido e não terei razão de lhe odiar nem também a gente de Virgulino terá esta razão. Sem mais do seu criado, obrigado. Hortêncio, vulgo Arvoredo, rapaz de Virgulino.
(In: Coletânea de Documentos Históricos para o 1o grau. São Paulo: SE/CENP, 1980. p.51)
O Arvoredo, em questão, era um cangaceiro pertencente ao bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. A atual historiografia entende o Cangaço como:
a. um movimento em que os cangaceiros faziam justiça social ao defender os pobres do sertão contra a opressão dos grandes fazendeiros.
b. um movimento de caráter religioso, em que seus participantes seguiam líderes religiosos como Lampião.
c.um movimento caracterizado como banditismo social, em que grupos de sertanejos armados se mantinham por meio de assaltos a fazendas e vilarejos.
d.um movimento de insurreição armada contra o regime monárquico vigente.