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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

1ª AULA DA 4ª UNIDADE DE HISTÓRIA PARA AS TURMAS DA 2ª A, B

 

Mayflower: o incômodo legado dos peregrinos que chegaram aos EUA há 400 anos

·         Nick Bryant

·         BBC News

3 outubro 2020

Em um momento em que os Estados Unidos estão sob pressão pelo peso e contradições de sua história, chega o 400º aniversário do Mayflower, o icônico navio que, em 1620, transportou da Inglaterra aos EUA os peregrinos que formariam a primeira colônia permanente na costa leste americana.

Neste ano, o país se vê obrigado a enfrentar o terrível legado da escravidão e do racismo sistêmico que surgiu desse pecado original.

Estátuas comemorando os heróis da Confederação têm sido derrubadas. Novos marcos surgiram, como as palavras Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) pintadas em letras amarelas fluorescentes a poucos metros da Casa Branca. A recente morte do congressista negro John Lewis nos lembrou das batalhas da era dos direitos civis na década de 1970.

Assim, em meio à luta contra o surto distópico do coronavírus e o surgimento de um novo mundo, também estivemos imersos nos acontecimentos do passado.

O passado é sempre o presente nos Estados Unidos da América.

Do atual Tea Party (movimento conservador do Partido Republicano) aos manifestantes contra o general confederado mais famoso, Robert E. Lee; da discussão se o time de futebol de Washington deveria se autodenominar Redskins (Peles Vermelhas) até o debate sobre se os fundadores dos Estados Unidos que possuíam escravos ainda deveriam ser homenageados... Nenhum país no mundo vive e contesta sua história com tanta paixão e ferocidade.

As guerras culturais da política partidária contemporânea, as batalhas que fazem esse país parecer uma terra ocupada por tribos em guerra, muitas vezes são guerras realmente históricas.

Assim, onde o Mayflower se encaixa na história americana? Que significado devemos atribuir à chegada desses dissidentes ingleses? Como isso influencia o presente?

Neste 400º aniversário, ele merece tanta comemoração? Afinal, o Mayflower não levou os primeiros colonos ingleses para a costa americana.

Nem mesmo a plantação de Plymouth (em Massachusetts, onde eles se estabeleceram) foi o assentamento inaugural. Jamestown, na Virgínia, fora fundada 13 anos antes. No oeste, os espanhóis já haviam se estabelecido em Santa Fé, capital do que hoje é o Estado do Novo México.

E talvez valha a pena dizer o óbvio desde o início: que os peregrinos não devem ser confundidos com os fundadores, patriotas que lutaram contra os britânicos, os visionários que em 1776 deram início a esta experiência turbulenta de democracia.

George Washington não era um dos passageiros a bordo do Mayflower, como se costumava pensar, embora nove presidentes dos Estados Unidos possam rastrear suas linhagens até aqueles que fizeram a viagem, incluindo os Bush e Franklin Roosevelt.

Também é um erro ver a chegada do Mayflower como a primeira interação entre colonos brancos e nativos americanos. O contato com os europeus durou pelo menos um século, em parte porque os traficantes de escravos tinham os nativos americanos em sua mira. Quando os peregrinos chegaram, alguns membros da tribo Wampanoag sabiam até falar em inglês.

Plymouth Rock (destino final do Mayflower) não é a Filadélfia, o berço da Constituição americana. A viagem transatlântica do Mayflower não possui a mesma glória nacional que a travessia do rio Delaware ou o ataque às praias da Normandia, apesar das afirmações de atrações turísticas locais de que foi a viagem que criou uma nação.

Os americanos não têm em relação a Plymouth Rock o mesmo senso de peregrinação que, por exemplo, Gettysburg (palco da batalha mais trágica da guerra civil americana, em 1863) ou até mesmo Graceland, a mansão que foi de Elvis Presley.

No final do século 19, havia um plano para erguer uma estátua para homenagear os peregrinos que rivalizaria com o Colosso de Rodes e tornaria a Estátua da Liberdade, em Nova York, pequena. Mas essa oitava maravilha do mundo nunca se tornou realidade, e um monumento menor foi construído em seu lugar.

Quanto ao pavilhão que envolve o pedaço de rocha que marca o ponto de desembarque, ele é, para os padrões americanos, um marco modesto: um dossel sustentado por doze colunas que poderia facilmente ser confundido com um coreto.

Pacto de Mayflower

O pacto de Mayflower é um documento histórico significativo, o "berço das nossas liberdades", como um historiador o colocou de forma evocativa. Assinado pelos Peregrinos e pelos chamados Estranhos, artesãos, mercadores e serventes trazidos com eles para estabelecer uma colônia de sucesso, o documento concordava em aprovar "leis justas e igualitárias para o bem da Colônia".

Foi a primeira experiência de autogoverno do Novo Mundo. Alguns acadêmicos chegam a vê-lo como uma espécie de Carta Magna americana, um modelo para a Declaração de Independência e a Constituição dos Estados Unidos.

No entanto, os pesquisadores do Centro Constitucional da Filadélfia ressaltam que ela já havia sido esquecida na época em que os fundadores se encontraram no Independence Hall.

Nem a crença dos peregrinos no que Robert Hughes chamou de "a hierarquia dos virtuosos" se enquadra na poesia mais secular da Declaração de Independência de que todos os homens são criados iguais e dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis.

Além disso, o Pacto de Mayflower começa com uma declaração de lealdade ao Rei Jaime 1 da Inglaterra e 6 da Escócia.

Depois que Washington triunfou em Yorktown contra os britânicos e esta nação incipiente começou a se afirmar no mundo, os primeiros escritores da história americana preferiram começar suas histórias com Cristóvão Colombo, apesar do fato de o explorador italiano nunca ter posto os pés na América do Norte.

Um novo país que acabara de expulsar os britânicos não queria ser definido por seu caráter inglês. Minimizar a importância do Mayflower tornou-se um primeiro ato de descolonização.

Puritanos e peregrinos

Os políticos de hoje se apropriaram de parte da linguagem messiânica da era colonial.

Ronald Reagan gostava de falar sobre "a cidade na colina", imitando a linguagem usada por John Winthrop durante sua viagem para a Nova Inglaterra. Mas Winthrop era mais puritano do que peregrino e navegou a bordo do Arbella em vez do Mayflower.

É uma diferença sutil, mas importante.

Ao contrário dos peregrinos, os puritanos, que chegaram dez anos depois, não eram separatistas. Eles permaneceram na Igreja da Inglaterra na esperança de banir os costumes católicos lá de dentro.

A colônia da baía de Massachusetts que eles fundaram ao norte, o assentamento que se tornou Boston, foi muito mais influente na formação da América do que a plantação de Plymouth.

Porém, tudo somado, o legado dos peregrinos e puritanos é fundamental.

O legado

A ética do trabalho. O fato dos americanos não tirarem muitas férias anuais. Noções de autossuficiência e atitudes em relação à assistência social governamental. Leis que proíbem o consumo de álcool em bares para jovens de até 21 anos. Certo pudor. A religiosidade. Os americanos continuam esperando que seus presidentes sejam homens de fé. Na verdade, nenhum ocupante da Casa Branca se identificou abertamente como ateu.

Além disso, a motivação do lucro era forte entre os colonos, e com a crença de que a prosperidade era uma recompensa divina por seguir o caminho de Deus. Um precursor do evangelho da prosperidade pregado pelos atuais evangelistas da televisão.

Todas essas características nacionais têm raízes nos puritanos.

O francês Alexis De Tocqueville chegou a escrever em sua obra Democracia na América: "Acho que podemos ver todo o destino da América contido no primeiro puritano que desembarcou nessas praias".

Os peregrinos, ou mais precisamente, as peregrinas, também deixaram para trás um acervo genético do qual continuam extraindo dezenas de milhões de americanos.

Tantos cidadãos americanos afirmam ter descendentes que chegaram no Mayflower que você seria desculpado se pensasse que o navio de três velas era do tamanho de um porta-aviões.

Por tudo isso, quase a única vez que os peregrinos ocupam um lugar de destaque no imaginário nacional é o Dia de Ação de Graças, aquela festa com peru e abóbora antes do Natal, quando toda a América faz uma pausa cheia de calorias.

Esse feriado nasceu da celebração que marcou a primeira colheita em 1621, quando os colonos se reuniram com os nativos americanos Wampanaog. É embalado como um ato de coexistência pacífica, um banquete agradável que sugere que os índios americanos receberam os peregrinos de braços abertos.

No entanto, a maior parte do que as crianças americanas aprendem sobre o feriado não resiste a um exame minucioso. É mitologia, não história.

Por um lado, existem as imprecisões inconsistentes.

Acredita-se, por exemplo, que o prato principal seja a carne de veado, e não o peru. O moderno menu de peru e torta de abóbora foi inventado por um editor de uma revista do século 19, que leu sobre a primeira festa e pressionou Abraham Lincoln para que o Dia de Ação de Graças fosse um feriado nacional.

Mas a maior ficção é a mais prejudicial.

Em uma recontagem fraudulenta da história, o lugar dos nativos americanos naquela mesa é comumente mal usado e mal compreendido. O Dia de Ação de Graças fomentou a ideia de que os nativos americanos receberam calorosamente os colonos europeus brancos; que ajudaram os recém-chegados ensinando-os a sobreviver no Novo Mundo; que viviam juntos em harmonia; que se reuniram para a festa e depois desapareceram da história.

É uma narrativa de validação colonial; de aceitação artificial; conforto branco. É uma história que aceita ao pé da letra um selo da colônia desenhado pelo Massachusetts Bay Colony que mostrava um índio americano seminu implorando aos ingleses: "Venham e ajudaremos".

Consequentemente, o Dia de Ação de Graças se tornou um véu americano, uma capa de invisibilidade em torno da qual as verdades incômodas da história foram escondidas por séculos.

Mas na realidade...

Embora houvesse uma sensação de distensão naqueles primeiros anos — principalmente porque os Wampanoag estavam ansiosos para recrutar aliados contra uma tribo rival —, ela logo mudou.

Os nativos americanos se tornaram vítimas dos colonos; presos por grilagem de terras, exploração dos recursos naturais e doenças mortais importadas da Europa, às quais eles não estavam imunes.

Todas essas tensões explodiram em uma série de guerras entre os habitantes indígenas da Nova Inglaterra e os colonos que roubaram suas terras.

Esta, então, é mais uma história de conflito do que colaboração; de derramamento de sangue, não de fraternidade. Os feriados de Ação de Graças às vezes eram comemorados para celebrar as vitórias sobre os nativos americanos.

Hierarquia cultural

Como o historiador David Silverman mostrou em seu livro This Land is Their Land ("Esta Terra é a Terra Deles", em tradução livre), a ideia de que os peregrinos foram os pais da América foi adotada pelos habitantes da Nova Inglaterra no final do século 18, preocupados que sua influência cultural não fosse tão forte quanto deveria ser quando a primeira república tomou forma.

Desde então, a primazia dos peregrinos e os mitos do Dia de Ação de Graças foram reutilizados sempre que os protestantes brancos sentiam que sua hegemonia estava ameaçada.

Isso foi especialmente verdadeiro no século 19, quando ondas de imigrantes europeus católicos e judeus desafiaram o domínio do protestantismo branco.

Os peregrinos foram cooptados para afirmar o domínio da cultura WASP: termo em inglês para branco, anglo-saxão e protestante. Eles foram usados ​​para estabelecer uma hierarquia cultural.

Esse domínio persiste até hoje.

Um país colonizado por protestantes anglo-saxões continua a favorecer os protestantes anglo-saxões. Foi só em 1960 que os Estados Unidos elegeram um presidente católico, John Fitzgerald Kennedy, um político de ascendência irlandesa. Joe Biden pretende se tornar o segundo.

Há também uma dimensão de classe na cultura WASP, o que significa que os peregrinos dificilmente são considerados heróis populistas. A cultura WASP tem sido tradicionalmente uma preservação da classe alta, reforçada por meio de casamento, herança, patrocínio e escolas e universidades de elite.

Os peregrinos foram os criadores de um sistema de classes americano que fez Donald Trump, com todas as suas riquezas, se sentir um estranho.

Embora a mãe dele tenha nascido na Escócia, Donald Trump é descendente de alemães e cresceu no bairro do Queens, em Nova York. Isso o tornava "um cara pouco sofisticado" para os sangues azuis do WASP de Manhattan, que zombavam dele como um magnata do mercado imobiliário novo-rico e um candidato presidencial vulgar.

Por sua vez, os descendentes daqueles que desembarcaram em Plymouth Rock — a elite original da Costa Leste — são frequentemente alvo das investidas antielitistas de Donald Trump.

Domínio

Os peregrinos também afirmaram o domínio da raça branca, muitas vezes com força assassina.

Durante os primeiros anos, em um ciclo de matanças retaliatórias, houve massacres de ambos os lados. Mas a selvageria dos colonos brancos foi grotesca. Eles tentaram aterrorizar seus inimigos atacando não-combatentes, colocando fogo em cabanas e matando, com espada, aqueles que escapavam.

Logo eles envolveram aquela matança na linguagem da redenção, de como haviam feito a obra do Senhor ao enviar aquelas almas perversas para o inferno.

Os habitantes originais da terra passaram a ser tratados como invasores e saqueadores.

Quando em 1675 um grupo de nativos americanos se uniu para lutar contra os colonos, o cadáver de seu líder Metacom, a quem os ingleses apelidaram de 'Rei Phillip', foi tratado como um troféu. A cabeça foi exibida em um pique na plantação de Plymouth.

Escravidão e branqueamento

Assim como sua brutalidade tem sido tradicionalmente minimizada, a aceitação da escravidão pelos puritanos foi ignorada.

Os colonos não apenas importaram escravos africanos, mas também exportaram nativos americanos. Na década de 1660, metade dos navios do porto de Boston estava envolvida no comércio de escravos. Pelo menos centenas de nativos americanos foram escravizados.

A divisão racial tem sido a configuração padrão para a vida americana, e aqueles primeiros colonos brancos traçaram a linha de cores com o sangue nativo americano.

No entanto, até hoje, os peregrinos continuam a ser retratados principalmente como vítimas de perseguição, os primeiros solicitantes de asilo que fugiram da intolerância religiosa de sua terra natal.

Recontar a viagem de Mayflower como uma história da origem do país também promoveu e sustentou a crença de que a história americana começa na época da colonização europeia.

Isso não é tanto uma lavagem da história dos nativos americanos, mas sim sua completa eliminação. É um enquadramento da história baseado na crença contemporânea de que os colonos chegaram a terrenos baldios, e não a territórios ocupados havia milhares de anos. Esta crônica dos conquistadores ignora deliberadamente pelo menos 12 mil anos de história dos índios americanos, uma narrativa complicada e frequentemente sangrenta.

Os perdedores

Quando você começa a repensar a história a partir da perspectiva dos vencidos, algumas possibilidades historiográficas inovadoras se abrem.

Em sua obra americana de sucesso, "These Truths" (Estas Verdades), a estudiosa de Harvard Jill Lepore argumenta, por exemplo, que a revolução nos Estados Unidos não começou com os colonos ingleses que eventualmente se rebelaram contra o rei, mas com as pessoas que eles governaram. Nessa reformulação, os patriotas americanos que enfrentaram os britânicos são considerados os herdeiros revolucionários dos nativos americanos que enfrentaram os ingleses.

Ao menos durante as comemorações deste ano, a história do povo Wampanoag será reconhecida.

Não foi assim há 50 anos, no 350º aniversário. Embora um líder nativo americano tenha sido convidado para falar em um jantar em Plymouth, Massachusetts, ele não teve permissão para fazer o discurso que preparou. Nele, descreveu a chegada do Mayflower como o começo do fim para a cidade dele, uma dura verdade considerada desagradável demais para os anciãos da cidade que participavam de um banquete.

Dar mais destaque aos Wampanoag nessas comemorações será visto como um corretivo que já deveria ter sido adotado há muito tempo, transformando a celebração em uma busca de entendimento.

Mas não se engane: as guerras da história americana continuarão a ser travadas e os peregrinos continuarão presentes nessa batalha.

 

 Questionário

1.      O que é Distópico?

2.       Por que Mayflower não representa tudo o que coloca sobre ela?

3.      Caracterize o Pacto de Mayflowe?

4.      Mostre as heranças no comportamento do Americano que tem origem no puritanismo.

5.      O que dia de Ação de Graças escondem?

6.      Coloque o significado de WASP.

7.      Quais foram as ações dos colonos frente Indígenas e Africanos?

4 de julho: Como começou a rebelião que levou à independência dos Estados Unidos

4 julho 2019

O dia 4 de julho é data de uma das maiores festas nacionais dos Estados Unidos.

Os americanos celebram seu Independence Day com diferentes atividades, sendo uma das mais populares a queima de fogos, que acontece nos quatro cantos do país.

As comemorações remetem ao 4 de julho de 1776, a data em que foi impressa a Declaração de Independência, quando se considera que nasceu o país.

O território que se tornou independente dos britânicos, entretanto, era muito menor do que os Estados Unidos como conhecemos hoje.

Em meados do século 18, o Reino Unido tinha sob seu domínio na América do Norte as chamadas 13 Colônias, que se estendiam na costa leste do continente: Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island, Connecticut, Nova York, Pensilvânia, Nova Jersey, Delaware, Maryland, Virginia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Georgia.

A colonização começou no século 17, como parte da expansão dos territórios britânicos no "Novo Mundo", que chegou também ao Canadá e parte do Caribe.

De forma geral, o governo central administrava seus domínios sob a lógica do colonialismo mercantilista, para extrair das possessões ultramarinas o máximo possível para benefício da metrópole.

As 13 colônias, entretanto, tinham uma particularidade: gozavam de alto grau de autonomia e realizavam suas próprias eleições locais. Essa liberdade forjou as bases de um sentimento de identidade que, a partir de 1750, viraria substrato do movimento de independência.

Aumento de impostos

O domínio britânico sobre as colônias que se tornariam os Estados Unidos teve um marco em 1763, quando teve fim a Guerra dos Sete Anos, que envolveu a maioria das grandes potências europeias da época e contrapôs França e Grã-Bretanha.

A supremacia colonial em todo o mundo era uma das principais razões por trás do conflito, que, por isso, se espalhou por diversas frentes: Europa, América do Norte, América Central, África Ocidental, Índia e Filipinas.

Com a assinatura do Tratado de Paris entre França, Espanha e Grã-Bretanha em 1763, os franceses renunciaram às suas aspirações sobre as 13 colônias britânicas na América do Norte.

Ainda que tenham saído vitoriosos, os britânicos emergiram do conflito em situação delicada, com as finanças públicas em frangalhos.

É nesse contexto que a metrópole decidiu impor sobre as colônias uma série de impostos - sobre produtos como açúcar e chá -, que se tornaram bastante impopulares e motivaram rebeliões.

Os colonos alegavam que os impostos eram ilegítimos porque as colônias não tinham representação no Parlamento em Londres. "Nenhum imposto sem representividade ("no taxation without representation)", dizia o slogan que resumia a queixa.

A partir daí, apareceram cada vez mais grupos de oposição à metrópole, que passaram a se organizar em reuniões como o congresso de representantes que, em 1765, emitiu uma declaração de direitos e agravos.

Multiplicaram-se também os incidentes violentos e as mobilizações populares, entre as quais a célebre "Festa do Chá de Boston", em 16 de dezembro de 1773, em que foram jogados ao mar grandes quantidades de chá britânico.

Londres reagiu enviando soldados às colônias e promulgando leis que, de um lado, reduziam as competências das instituições autônomas e, de outro, davam mais poder aos funcionários e militares britânicos.

A resposta ao aperto da metrópole veio com a unificação de todos os congressos provinciais - ou os equivalentes - das colônias no Primeiro Congresso Continental constituído na Filadélfia em 5 de setembro de 1774, ao qual estiveram presentes representantes de 12 colônias (todas, exceto a Georgia).

Um ano depois, o órgão se reuniu mais uma vez no Segundo Congresso Continental, de onde sairia, um ano mais tarde, a Declaração de Independência.

Diferença de posturas

Nem entre os colonos nem entre os britânicos havia consenso sobre como resolver as diferenças crescentes entre os dois lados.

No caso das colônias, alguns defendiam manter o vínculo com a metrópole. Eram os chamados "loyalists", fiéis à coroa britânica.

A eles se contrapunham os "patriotas", que queriam romper completamente as relações com Londres e declarar independência.

Do outro lado do Atlântico, havia os que advogavam pela reconciliação com os colonos e os que defendia a imposição da soberania britânica com uso da força.

Após algumas tentativas de conciliação por meio do diálogo, o conflito se mostrou inevitável e, em 19 de abril de 1775, teve início a Guerra de Independência, também conhecida como "Revolução Americana" ou "guerra revolucionária".

A primeira revolução

O conflito deu início à era das revoluções da idade contemporânea e foi o primeiro de uma série de processos de descolonização.

As forças britânicas eram, a princípio, mais poderosas - mas os colonos continuaram batalhando mesmo diante das derrotas.

Durante o inverno de 1775-1776, os membros do Congresso Continental das colônias viram as opções de reconciliação com os britânicos diminuírem e passaram a enxergar a independência como alternativa mais viável.

Em janeiro de 1776, o político e escritor de origem inglesa Thomas Paine, considerado um dos pais fundadores dos Estados Unidos, publicou o ensaio Common Sense ("Sentido Comum"), em que defendia a independência das colônias.

A obra, que até hoje uma das mais vendidas no país, foi naquele momento um impulso importante para a causa revolucionária.

2 ou 4 de julho?

Em 7 de junho de 1776, o advogado da Virginia Richard Henry Lee apresentou uma moção na Câmara para que se declarasse a independência.

Muitos congressistas concordavam, mas pensavam que algumas colônias ainda não estavam prontas para dar esse passo naquele momento.

Foi criado então um comitê para elaborar a declaração de independência, tarefa comissionada a Thomas Jefferson, advogado e político também da Virginia que anos depois se tornaria o terceiro presidente dos Estados Unidos.

Benjamin Franklin e John Adams revisaram os rascunhos de Jefferson. Mantiveram a ideia original, eliminando algumas passagens que, para eles, poderiam enfrentar maior oposição - aquelas relacionadas à escravidão, por exemplo.

Entre os trechos mais famosos estão "todos os homens são criados iguais" e "a vida, a liberdade e a busca pela felicidade" são direitos naturais e inalienáveis.

O comitê apresentou a versão final ao Congresso em 28 de junho de 1776. O texto foi aprovado no dia 2 de julho.

O documento só foi impresso, entretanto, no dia 4 de julho - tendo se tornado esta a data de celebração nacional.

A Declaração de Independência colocou fim, na prática, à guerra contra os britânicos. O término formal do conflito, porém, só viria sete anos depois, em 3 de setembro de 1783.

Os britânicos ratificaram a declaração de paz no dia 9 de abril de 1784.

Questionário

1.      O que as 13 Colônias tinham de distinto em comparação as outras colônias?

2.      Por qual razão os Britânicos impuseram uma série de impostos aos colonos?

3.      Quem foi Thomas Paine?

4.      Mostre o evento acontecido em 4 de julho de 1776?

A história brutal e quase esquecida da era de linchamentos de negros nos EUA

·         Ángel Bermúdez (@angelbermudez)

·         BBC Mundo

29 abril 2018

Em 1904, o afro-americano Luther Holbert foi amarrado a uma árvore em Doddsville, no Estado americano do Mississippi, por uma multidão que o acusava de matar um fazendeiro branco. Naquela época, os Estados Unidos viviam um período de violência e segregação raciais.

Junto de Holbert, também presa a uma árvore, estava uma mulher - acredita-se que era sua esposa. Ambos foram obrigados a erguerem as mãos. Em seguida, seus dedos foram cortados um a um, e depois jogados para a multidão, como uma espécie de souvenir macabro. Suas orelhas também foram cortadas.

Além disso, os dois foram espancados. Uma espécie de saca-rolhas foi usada para fazer buracos em seus corpos e retirar pedaços de suas carnes. Finalmente, Holbert e a mulher foram jogados em uma fogueira e morreram queimados.

A tortura e o assassinato de Holbert e da mulher desconhecida foram assistidos por uma multidão de homens, mulheres e até crianças, todos brancos. Enquanto presenciava o linchamento, o público comia ovos recheados e bebia limonada ou uísque, com a mesma atitude tranquila de quem está fazendo um piquenique.

Este episódio de linchamento brutal está longe de ter sido o único nos Estados Unidos. Entre 1877 e 1950, 4,4 mil pessoas foram linchadas no país, segundo registros da Iniciativa por uma Justiça Igualitária (EJI, na sigla em inglês), uma organização não governamental. A grande maioria delas eram pessoas negras.

É o que os historiadores chamam de "era dos linchamentos". Não era uma forma de fazer justiça pelas próprias mãos. Tratava-se, na verdade, de crimes raciais.

Linchamentos foram anunciados nos jornais da época

A "era dos linchamentos" se estendeu até meados do século 20. Seu ápice foi entre 1890 e 1930, explica Stewart Tolnay, professor de Sociologia da Universidade de Washington.

Em alguns casos, inclusive, eram publicados anúncios nos jornais, convocando as massas para participarem. "Três mil pessoas vão queimar um negro", dizia uma notícia do New Orleans State, de 1919. "John Hartfield será linchado por uma multidão de Ellisville às 5 da tarde de hoje", falava o Daily News de Jackson, Mississipi, do mesmo período.

"Os casos em que os linchamentos foram anunciados nos jornais são poucos, ainda que tenham resultado em algumas das maiores multidões. Mais frequentes foram os casos em que massas pequenas detinham e linchavam alguém, a quem acusavam de ter cometido um tipo de crime. Eram eventos rotineiros e silenciosos", indica Tolnay, que publicou dois livros e diversos artigos sobre o tema.

O fato de estas mortes poderem ser anunciadas na imprensa, com antecedência, demonstra que não se tratava de ações impulsivas executadas por uma turba exaltada. Havia um planejamento. Some-se a isso que era muito raro que os linchadores fossem julgados.

A EJI destaca que as mortes não eram resultado da ação de uns poucos extremistas, mas sim atos públicos violentos que contavam com a participação de toda uma comunidade. Além disso, eram toleradas pelas autoridades e os responsáveis não enfrentavam nenhum tipo de consequência legal.

"Os linchamentos eram atos de violência racial que estavam no centro de uma campanha sistemática de terror que perpetuava e respaldava uma ordem social injusta. Estes linchamentos eram terrorismo", aponta a organização em seu informe.

De supostos crimes ao simples fato de esbarrar em brancos

A maior parte de vítimas de linchamentos era negra. Entre 1882 e 1889, a proporção era de 4 negros para cada branco. Posteriormente, entre 1890 e 1900, aumentou para 6 negros para cada branco. Depois disso, chegou a 17 para 1.

Segundo o estudo da EJI, cerca de 30% dos afro-americanos linchados foram acusados de homicídio. Outros 25% foram acusados de agressão sexual. "A definição de violação sexual de um negro a uma branca no Sul dos Estados Unidos era incrivelmente ampla. Não era necessário o uso da força, porque a maior parte dos brancos rechaçava a ideia de que uma mulher branca poderia consentir uma relação sexual com um negro", considera a organização.

Outras centenas de negros perderam a vida acusados de provocar incêndio, praticar roubo ou simplesmente por "vadiagem".

Havia acusações mais banais. Segundo o estudo da EIJ, o afro-americano Jesse Thornton foi linchado em Luverne, Alabama, em 1940 por ter se referido a um policial pelo nome, e não por "senhor". Já em 1916, Jeff Brown foi linchado em Cedarbluff, Mississipi, por tropeçar acidentalmente em uma jovem branca enquanto corria para pegar o trem. O soldado Charles Lewis foi linchado em 1918, em Hickman, Kentucky, por se negar a esvaziar os bolsos enquanto estava vestindo seu uniforme militar.

O professor Stewart Tolnay aponta que os linchamentos não eram uma forma de justiça popular frente a um sistema de justiça oficial que não funcionava.

"Havia um sistema penal perfeitamente adequado que podia lidar com os delinquentes, fossem eles brancos ou negros. O linchamento dos negros tinha um objetivo diferente: deixar uma mensagem muito clara para a comunidade negra de que havia limites para sua ascensão social", afirma Tolnay.

Já os brancos que eram linchados costumavam fazer parte de uma camada marginalizada da sociedade, explica Tolnay. Eles "nunca eram linchados pelos motivos banais pelos quais os negros eram mortos. Além disso, não costumavam sofrer torturas", afirma Tolnay.

Negros foram privados de direitos

A "era dos linchamentos" teve seu epicentro no Sul dos Estados Unidos. Se iniciou depois do fim da Guerra Civil americana e da declaração formal de fim da escravidão, em 1863. Para os pesquisadores, não se trata de coincidência.

"Depois da Guerra Civil, cerca de 4 milhões de escravos negros se tornaram livres e passaram a competir com os brancos (por empregos) nas economias dos estados do Sul", explica Tolnay.

"Os negros foram ameaçados até que ficaram completamente privados de direitos de participação política, por volta do ano 1900, e o Sul ficou governado pelo sistema de castas raciais, no qual havia uma clara linha de separação entre a 'raça branca superior' e a 'raça negra subordinada'".

"Os brancos ricos eram a elite e os brancos pobres usavam o linchamento para reforçar esse sistema de castas raciais e reduzir as probabilidades de ascensão social dos negros do Sul", acrescenta.

Afro-americanos fugiram do Sul para o Norte

Os linchamentos foram uma das causas da migração massiva de cerca de 6 milhões de afro-americanos do Sul para o Norte dos Estados Unidos, entre 1915 e 1970. No Norte, se estabeleceram em guetos.

Essa redistribuição da população reduziu a disponibilidade de mão-de-obra barata no Sul, algo que segundo Tolnay pode ter convencido as elites do Sul sobre a necessidade de mudanças.

"Os linchamentos se converteram em algo vergonhoso para o Sul, à medida que a economia se desenvolvia. A elite branca tentava atrair capitais externos, então precisava mudar a imagem do Sul. Essa era uma prática brutal, espantosa e desumana, que não ajudava", assinala o professor.

Deste modo, o fenômeno foi se reduzindo até acabar. Mas sem que, segundo a ONG EJI, houvesse um processo de reconhecimento da brutalidade do passado e de reconciliação, como ocorreu na Alemanha com relação ao Holocausto ou na África do Sul sobre o apartheid.

Monumento para lembrar as vítimas

Apesar de ser uma parte importante da história dos Estados Unidos, a "era dos linchamentos" é pouco conhecida. Para mudar isso, em 26 de abril, foi inaugurado o Monumento Nacional pela Paz e Justiça em Montgomery, no Estado americano do Alabama.

"Diga o nome de um afro-americano linchado entre 1877 e 1950? A maior parte das pessoas não conhece nenhum. Milhares de pessoas morreram, mas não se pode nomear uma sequer? Por quê? Porque não temos falado sobre isso", comentou Bryan Stevenson, fundador da EJI, sobre o motivo por trás da criação do Monumento.

O Monumento espera apresentar para o público o contexto da história do terror racial nos Estados Unidos, com o uso de recursos artísticos. Além disso, foram criados mais de 800 memoriais de aço de cerca de 2 metros de altura, um para cada condado dos Estados Unidos onde afro-americanos foram linchados. Neles, estará grafado o nome das vítimas.

Cada um desses monumentos tem uma réplica, que a EJI espera entregar para as regiões correspondentes. A ideia é que as esculturas sejam expostas nos próprios locais, recordando as histórias de linchamento.

Para os responsáveis da EJI, o número de regiões que solicitarem o envio dessas réplicas será um indicador de quanto se avançou no caminho da verdade e da reconciliação.

 



ATIVIDADE DE AVERIGUAÇÃO DE APRENDIZAGEM



 

1.      Quantas pessoas foram linchadas nos EUA entre 1877 e 1950?

2.      O que eram o Linchamento?

3.      Qual era o recado dado pro meio do Linchamento?

4.      Como o linchamento faz parte da Guerra Civil Americana?

5.      Por qual razão os negros foram para o Norte?Quais ações estão sendo tomadas para combater o silêncio da História do linchamento?